terça-feira, 25 de junho de 2013

Energia solar e... tomates

O sol é muito, constante e impiedoso para quem tem o infortúnio de ter de trabalhar debaixo dele durante o Verão. A Arabia Felix (mal traduzida para Arábia feliz, na verdade é Arábia fértil) não fica aqui, é mais a Sul onde a Monção permite o verde. Corresponde ao actual Iémen e Dhofar omanita. Apesar de estarmos não muito longe do equador, o Verão tem mais horas de luz do que o Inverno - uma ou duas - o que não ajuda. Quando o céu não é azul significa que a névoa que encobre o Sol é a humidade que se aproxima dos 80%... trópico de câncer no seu esplendor. E a noite, por causa dessa humidade, só não tem o Sol porque a temperatura não varia
Com todo este Sol pensaría que a energia solar seria uma fonte bem aproveitada. E é, mas involuntariamente. Quase todas as casas têm um tanque de água no telhado de onde vem a água para as torneiras. Nos dias de calor sabe bem refrescar as mãos e cara com água fresca. Mas não em Omã... a água "fria" é quente, não morna, quente, o suficiente para tomar banho sem ligar a água "quente". O truque é desligar os cilindros de água quente e aproveitar a água fria que deles sai ligando a água "quente".
Ponto de partida
Aproveitamento mais tecnológico da energia solar é ainda pouco, mas com honrosas excepções. Há o ocasional painel de solar térmico em habitações - imagino que seja útil no Inverno - alguns bairros com iluminação pública autónoma, ou seja, cada candeeiro tem um painel solar associado para além de outros esporádicos exemplos. Provavelmente o melhor exemplo de utilização de energia solar é o projecto de Amal West. Um campo petrolífero no Sul do País relativamente grande mas com óleo pesado, difícil de extrair. Uma das formas de tornar o óleo mais móvel é aquece-lo ou misturá-lo com algo que o faça mais fluido. Uma solução frequente é ter uma pequena central térmica que queima gás ou outro combustível fornecendo a energia, geralmente sob a forma de vapor de água, injectada para o reservatório permitindo a produção do óleo. Naturalmente não é uma forma muito eficiente nem amiga do ambiente de o fazer. Recentemente foi testada com sucesso uma técnica de produção de vapor de água para injeção em reservatório usando como fonte de energia o Sol. Um conjunto de painéis solares à superfície concentram energia sob a forma de calor em tubagens, vaporizando a água que é injectada em profundidade, transmitindo o calor à rocha reservatório e ao óleo. Os resultados foram muito bons e o projecto está em fase de aplicação a escala real. Podem ler mais sobre isto aqui e aqui.
Ponto de chegada
Voltando ao aproveitamento da energia solar com aplicações mais básicas e desta vez voluntárias, eis que entram os tomates. Aproveitando o calor intenso, Sol e algum vento resolvi secar vegetais. Tomates são o mais comum e podemos vê-los no supermercado. São, contudo, geralmente caros e ao que parece frequentemente secos com produtos químicos, de forma semelhante a muitos enchidos que são fumados com "fumo líquido"... nem quero imaginar a surrapa que isso significa. Pelos menos nos Estados Unidos as empresas que os comercializam podem chamá-los tomates secos ao Sol, mesmo quando não são... Espero que na Europa seja mais controlado. A receita artesanal é simples e suponho que facilmente aplicável em Portugal nos meses de Verão. Omã produz muito tomate e é geralmente muito bom. No meu caso foi aproveitar os 5 ou mais kilogramas da palete que comprei a um vendedor de estrada à porta da empresa. Num tabuleiro - eu usei o preto do fogão - cortar tomates bem maduros às metades. Se forem muito grandes podem ser aos quartos. Vi receitas que diziam para tirar as sementes e polpa, mas não o fiz e não parece ter nenhuma influência na qualidade final. Colocar algumas pedras de sal grosso sobre a superfície cortada do tomate. Por umas gotas de vinagre em casa um. Afasta insectos e realça o sabor. Mantendo a superfície cortada para cima, por os tomates ao sol. Tapar o tabuleiro com uma rede fina ou pano translúcido para evitar insectos e poeiras, garantindo que não toca nos tomates.
No nosso terraço demorou 3 dias a ficarem no ponto: secos, com cheiro intenso característico dos tomates secos, mas ainda maleáveis. Deixar demasiado tempo faz com que fiquem quebradiços, uma casquinha de tomate. Com dois tabuleiros ficámos com tomate seco fantástico para o resto do ano. Beringela é o vegetal que se segue.

domingo, 2 de junho de 2013

Mais a Sul em Sur

Sur
Com 3 dias de fim de semana para aproveitar e tentando ignorar as temperaturas que teimavam não descer dos 40°C fomos explorar a zona de Sur. Desde há muito um porto importante, inclusive com construção naval, que perdura até hoje, foi também ocupado pelos portugueses quando cá estiveram. A enorme baía de Sur que por pouco não é uma laguna, forma um abrigo natural e naturalmente um porto e local de ocupação humana. Esquecendo algumas construções claramente fora de formato, souberam manter o casario baixo e integrado na arquitectura local. 
Outra vista da baía de Sur
Pelo que percebi as duas margens separam duas tribos, uma historicamente ligada ao comércio - até há não muito tempo de escravos - e a outra dedicada à construção naval, essencialmente os dowhs, embarcações tradicionais em Omã com capacidade de navegação em alto mar. As caravelas cá do sítio. Não estranhamente a margem Sul, ligada ao comércio, tem os edifícios maiores e mais elaborados.
Parte da viagem foi para ver uma das maiores atracções turísticas da zona: tartarugas marinhas que desovam aqui todo o ano. Ao longo dos muitos kilometros de praia - a grande maioria desocupada - com areia quente o ano todo, várias espécies de tartarugas marinhas, todas as que existem no Índico segundo percebi, passam por aqui para desovar.
Golfinhos ao largo de Ras al Had
O pico é durante Novembro quando também se vêem as pequenas a emergir dos ovos. Nós só vimos duas a desovar e voltar para o mar. Tudo durante a noite e de forma muito controlada. É um parque natural com acesso restrito (sem fotos...) e pelo que vi a protecção funciona mesmo. Uma boa combinação de turismo da natureza e conservação.
Também na mesma zona há viagens de barco para ver golfinhos e outra bicharada marinha. Menos profissional mas ainda assim respeitador, não abalroamos nenhum cetáceo. E com fotos! Na volta deu ainda tempo para ver um dos dois wadis com água o ano todo desta zona (deveriam ser oueds?). Wadi Tiwi, um sítio a voltar.
Wadi Tiwi