quinta-feira, 24 de julho de 2014

Sifah. Entre fiordes, mangue e montanha

Solitário aguarda a maré cheia
No caminho para Yitti já me tinha perguntado para onde iria aquela estrada no cruzamento. Este fim de semana fui. E já devia ter ido. A estrada serpenteia entre montes e wadis e passa por uma zona onde o mar invadiu a terra. Geralmente indica uma subida do nível do mar recente ou uma zona de subsidência de terra ou uma combinação das duas. O resultado são fiordes com uma costa muitíssimo recortada e montanhas a emergir do mar. Estando nos trópicos as poucas zonas aplanadas e lamacentas foram colonizadas por mangue. Pela riqueza biológica e também geológica esta zona é um pequeno parque natural.
Em cada wadi há uma vilória piscatória e correspondentes pescadores prontos a levar qualquer turista num passeio de barco por alguns reais. Não o fizemos mas deve valer bem a pena.
Uma das muitas reentrâncias da costa como um pouco de mangue no primeiro plano
No fim da estrada chega-se a Sifah, uma vila não muito grande mas com um empreendimento turístico recente que deve ter duplicado o número de casas e de pessoas. Aqui o areal é extenso, com um cordão de dunas e zona aplanada. Para o interior e a ladear a zona baixa estão montanhas formando um anfiteatro gigante e lindíssimo.
O passeio foi contemplado por um belo peixe grelhado - algo raro por aqui, sempre frito e com o indispensável picante - num restaurante local.
Tudo em poucas horas e a 50km de casa.
A praia de Sifah e as montanhas envolventes
 

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Wadi Bani Kharus

Em mais uma saída geológica organizada pela empresa - Omã é um paraíso para geólogos e a empresa facilita-nos o acesso ao Éden - segui para as montanhas. Assim como a visita a Nizwa e cidades dessa zona, não se sente que se está a subir para as montanhas. Elas são altas, bem altas e são visíveis a muitos kilometros de distância, mas os wadis são amplos e a altitudes bem inferiores. Não estranhamente a maioria da localidades estão nos wadis, assim como as estradas que cortam as montanhas. 
Um estreito formado por calcários do Jurássico
Wadi bani Kharus fica na parte Noroeste das montanhas Hajar, na zona de Rustaq onde as linhas de água drenam para Norte, alimentando os aquíferos da costa de Batinah, uma das zonas com maior produção agrícola - porque tem muita água subterrânea - e mais densamente povoadas de Omã e do Golfo.
Para os geólogos e também curiosos da História Natural os wadis que cortam as montanhas são uma viagem no tempo espectacular, com alfloramento a 100%, ou seja não há árvores, solo e essas coisas chatas a cobrir as rochas. Numa sequência em monoclinal (os estratos estão inclinados com a mesma direção e polaridade) viajamos desde o final do Cretácico (último Período dos Dinossauros), passando por todo o Mesozóico (essencialmente a Era dos Dinossauros e seus antepassados directos), com diversos tipos de rocha. Infelizmente grande parte do Paleozóico (pré-Dinossauros, maior parte da Era só com vida marinha) não está representado nesta zona, embora haja alguns locais na montanha com afloramentos do Ordovícico.
Alguém sabe a espécie?
Temos ainda das rochas mais antigas de Omã e de toda esta região, da base do Câmbrico e do PreCâmbrico, que como já foi dito parecem ser de outro planeta. São tipos de rochas, apesar de sedimentares como muitas outras, difíceis de comparar com qualquer ambiente de sedimentação actual ou de outro período da Terra. De igual forma os poucos fósseis que se encontram - a grande maioria microscópicos - são totalmente diferentes de toda a vida que povoou a Terra em períodos posteriores. Para alguém com alma de cientista é um desafio fascinante com o qual tenho o prazer de me deparar.
Para quem acha que pedra é só para cabeça dura (e não sofram de aracnofobia) ainda houve tempo de ver alguma da vida vivente.