segunda-feira, 11 de março de 2013

Walking the wadi


Um dos flancos do wadi em Yitii
Pensava que o termo wadi era uma das variações da palavra wued, ambas referentes a ribeiro ou rio. A última é um termo usado no Norte de África e que em Espanha e Portugal deu origem a Guadiana, Guadalquivir e outros rios e ribeiros. A comentar a origem destas e outras palavras no Português e Espanhol com omanitas, foi-me explicado que as duas não são sinónimos nem variações, simplesmente uma refere-se a rio perene (wued) e outro a rio intermitente (wadi). É interessante observar como a geografia influencia a língua. Pelo que sei não temos (nem os espanhóis) palavras específicas para estes conceitos. E o facto de na Península Ibérica ter ficado só com o termo wued. É seco mas nada comparado com maior parte dos países árabes.
Pequeno wadi em Yitii
Ao explorar um pouco de Omã, percebe-se a relevância de ter os dois termos. Quase todos os vales, mesmo os que têm origem nas montanhas onde chove mais são intermitentes. E destes a esmagadora maioria não tem água a correr no inverno: são quase sempre secos com inundações catastróficas quando passa por cá a monção ou outra tempestade mais forte. Para conter as torrentes e aproveitar alguma dessa água várias “barragens” estão ou já foram construídas no sopé das montanhas para que a água infiltre quando há cheia. Uso as aspas porque estas barragens são basicamente muros de pedra com poucas dezenas de metros de altura e vários kilometros de comprido, a cortar vales gigantes sem uma gota de água. À superfície.
Mesmo nas zonas aparentemente mais secas é interessante observar que há vegetação. Pouca mas constante e muitos dos vales estão cultivados, alguns com plantações de sequeiro como as tamareiras (que dão tâmaras bem boas, mesmo para quem não costuma gostar como eu) mas também outras árvores de fruto e vegetais que certamente precisam de mais água. Esta tem origem nos muitos poços que existem nos vales que indica que a água subterrânea abunda ou pelo menos existe em quantidade suficiente. 
Uma das "barragens" na zona de Sohar
Outra fonte de água, ainda hoje usada, são as falajs, um feito da engenharia antiga. As mais simples são como as levadas da Madeira que transportam água ao longo de canais a partir de uma fonte. As mais complexas nos sopés das montanhas envolvem poços verticais de algumas dezenas de metros até ao nível freático e galerias horizontais ou levemente inclinadas ao longo de kilometros (!) até à zona de costa ou vales mais longe das montanhas. Ao longo do percurso há poços onde a água é extraida para uso doméstico e agricola. Existem há mais de 1500 anos e a sua origem é debatida. Já vi escrito que tiveram origem na Pérsia, onde também são usadas, mas os omanitas reclamam-nas como suas. Vejam mais aqui.
Quando vir uma a funcionar reporto.

quinta-feira, 7 de março de 2013

A costa



O ponto de partida
Já tinha visto parte da costa a Sul de Mascate, na zona de Qantab, Yitti e Al Bustan. Mas de terra. Agora foi a vez da vista de mar. Evitando os preços dos barcos de recreio da marina, seguimos para Qantab, e um dos locais, ajudado por miúdos que pareciam estar a poucos anos de se tornarem lobos do mar, levou-nos para uma volta junto à costa a Sul e Sudeste de Qantab. Preço regateado claro! A costa, muitíssimo recortada, com muitas enseadas com praia, algumas delas só acessíveis por mar. As mais pequenas imaculadas, pequenos paraísos. As maiores, quase todas, com resorts de luxo, em funcionamento ou em construção. Com certeza levarão mais pessoas a estas zonas, mas infelizmente só as com dinheiro suficiente… O mar parecia calmo nas enseadas protegidas, mas fora delas ainda deu para uns belos banhos sempre que o barco dava chapadas na água. Para quem gosta de aves, é fantástico, águias pesqueiras, abutres, rabos-de-palha, garças e muito mais. Não deu para fazer snorkeling, mas certamente seria bom. 
Um dos resorts
Dá para perceber a dificuldade de manter o controlo de uma área tão extensa de costa, tão recortada, controlando apenas os portos. Devia ser impossível prever ataques vindos do interior e nalguns sítios devia ser possível esconder uma armada inteira de navios em algumas enseadas sem serem facilmente detectados. Talvez por isso tenhamos conseguido repelir os ataques dos turcos e persas mesmo quando surgiam com grandes armadas, mas não os dos omanitas que vinham do interior

Um dos vários ilhéus

Fica a nota mental para explorar esta costa, a 20 minutos de casa. Também para explorar, por indicação de um colega português, uma destas enseadas só acessível por mar, mais perto de Mascate, conhecida localmente como o cemitério dos Portugueses. Soa a uma boa saída.

segunda-feira, 4 de março de 2013

A mesquita do boss



É impossível passar despercebida. É grande, em área e altura e está mesmo ao lado da maior autoestrada do País. Um local disse-me que era a maior do mundo, mas depois de a googlar deu para ver que o mais próximo disso é ser a segunda maior em termos de área. A Grande Mesquita Sultão Qaboos tem capacidade para 20000 pessoas e há outras que têm capacidade para muito mais. Parece que o interior tem o segundo maior tapete do mundo, a cobrir toda a sala principal de oração (a dos homens claro). O candeeiro parece que é também o segundo maior. Os rankings são só isso mesmo.
Todo o espaço é muito agradável, muitíssimo bem cuidado, com um grande jardim à volta. A arquitetura foi muito bem conseguida, é grande sem ser opulenta e do pouco que percebo, respeitando o estilo local. É a grande mesquita do país, algo equivalente às Sés em Portugal.
Para além de atrair crentes, atrai os adolescentes locais com aro bikes, skates e afins mas que se mantêm a uma distância respeitosa da zona central. Para os não-muçulmanos a entrada é proíbida, mesmo nos pátios interiores. Algo que só me apercebi depois de lá ter estado e fotografado. Se não houver guarda e/ou o aspecto não for demasiado de turista, não deve haver problema. As salas de oração é que estão mesmo restritas a quem é muçulmano e dentro destes penso que só os Ibadis (a fação cá do sítio).

sexta-feira, 1 de março de 2013

Nome errado, comida na conta certa



Aproveitando o fim de semana e a companhia de amigos em visita voltei a explorar a costa a Sudeste de Mascate em Al Sidiya. Os barcos de pesca em Portugal normalmente são boa indicação de um ou mais restaurantes com peixe fresco e, espera-se, bem cozinhado.
Já tinha identificado um peixe da família da dourada (robalo, dourada, sardinha, sempre uma escolha certa, sustentável e saborosa) que abunda nestes mares, entre as várias dezenas que se podem encontrar nos mercados e restaurantes. Nesse aspecto parece ter mais variedade que em Portugal onde alguns peixes parecem estar restritos a cantinas (redfish, abrotea, maruca, etc), outros a restaurantes e depois alguns peixes que só parecem ser comprados e comidos em restaurantes especializados que ficam no vale de cu de Judas junto ao mar onde o pessoal vai em romaria só para comer esse prato. Os mais populares por aqui são o hamour (garoupa) e o kingfish (não sei o nome em Português, só em Árabe :) ). Talvez por isso mesmo estejam na lista de peixes cujo stock esteja sobre-explorado (ver mais aqui).
Felizmente, como em Portugal, a dourada, faskar por estes lados, tem os stocks em bons níveis e não há sobrepesca. Também como em Portugal é muito saboroso!
Vai lá com a mão!

A bela da tasca à beira da estrada, tinha como algumas em Portugal, erros ortográficos no inglês, a começar pelo nome do sítio. Será que também é uma indicação universal de boa comida? Comida omanita, clientes omanitas, cozinheiros paquistaneses. Comer com a mão claro. O peixe não vem grelhado, mas frito, bem condimentado e ligeiramente picante. A acompanhar arroz tipo byriani e salada não condimentada. Molho carilento e picante para quem quiser. Os amigos escolheram um shaari eshkeli (não faço ideia do nome em Português) e estava também muito bom. Sou esquesitinho na qualidade do peixe e na forma como é cozinhado, mas este sítio encheu-me as medidas. Com amigos então, é do melhor. Só falta conseguir comer o arroz sem ficar com metade na barba. É pena que esta boa comida não se veja mais. Os restaurantes que não são tasca têm indiano, libanês, iraniano, tailandês mas pouca coisa omanita. Talvez seja a falta de clientes, especialmente os expats que acho que não se aventuram muito por sítios que não tenham um ar moderno. Viva a tasca!
Nome errado, comida certa