quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Com três furinhos apenas...

As maquinetas ruidosas que me mostraram o
mundo das drogas injetáveis
Se tira um apêndice. Tinha tido um dor passageira há cerca de duas semanas mas não liguei. Devem ser gases disseram na altura. Anteontem de madrugada a dor era bem mais intensa e claramente não passageira. Depois de uma passagem pela clínica da empresa fui para as urgências de um hospital, felizmente já com uns analgésicos no sistema. Ainda foi grande a espera entre análises ao sangue, ecografia e diagnóstico do médico. Apêndice inflamado, glóbulos brancos em alta e dores características. Tempo de chamar o cirurgião e planear a operação para o próprio dia. Umas horas depois lá vesti a bata e roupa interior especiais para a ocasião. Suspeito que para além de dar jeito para os médicos e enfermeiros sirva para o paciente se sentir ridículo e incapaz e consequentemente colaborante. Só me lembro de o médico me dizer para sonhar com coisas boas como as praias do Algarve e de acordar (?horas) depois com uns empurrões das enfermeiras que arrumavam a sala e queriam despachar o paciente para o quarto. Um serão meio grogue e noite com vários períodos de sono e acordar para se mudar o soro. Boa recuperação e alta no dia seguinte. Ainda bem que não fiquei mais tempo. Os dois canais de Bollywood, apesar de terem um repertório que vem dos anos 70 começavam a fatigar. Já começava a reconhecer alguns actores. A qualidade clínica é boa, apesar de o médico anestesista me ter tido que tudo pode acontecer, mas InshAllah vai correr tudo bem. Allah foi grande. E a parte administrativa é digna de um filme de comédia. Começou por me ser dito no balcão das urgências (têm uma entrada especial para essa parte) que tinha de ir até ao outro lado do edifício para me registar e trazer de lá os papeis. Depois, já numa cama, pedirem à esposa grávida de 9 meses para ir carimbar uns papeis ao mesmo balcão do outro lado de edifício. "Mas acabe o seu pequeno almoço, não tenha pressa". E a cereja no topo do bolo foi terem dito para ir pagar ao piso debaixo, trazer de lá os papeis para depois me darem alta. Aí o copo transbordou e as evidências de uma grande barriga e um apêndice recém retirado fizeram com que abrissem uma excepção e me dessem a alta sem os papeis.
Em Bollywood as estórias de amor são ainda mais lindas
Esta é a estória feliz de um expat que trabalha numa empresa que cobre todas (ou quase) estas despesas no melhor hospital do país. Os locais têm acesso aos hospitais públicos. Os expats só em caso de urgência grave, como um acidente de automóvel. Para quem não tem nacionalidade omanita sobram os privados, que vão desde a clínica de esquina a hospitais completos mas que nunca chegam aos padrões de Portugal - sim temos um sistema de saúde bastante bom acreditem. Quem emprega expats tem, segundo a lei, de dar um seguro de saúde ou algum tipo de cobertura. Isso é a realidade para os expats qualificados, mas infelizmente muito longe dela para os expats indiferenciados que trabalham nas obras e outros trabalhos mal pagos.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

O Outono é como o Verão

Maio em Omã
Já vos tinha falado do clima e de como é quente. O Verão cá não tem comparação, como um dia de Agosto no Alentejo em que a humidade está muito alta, multiplicado por 120 dias... com o bónus de não ficar melhor à noite. Há com certeza saunas mais frescas do que o Verão arábico. Um relato comum de quem vive cá há umas décadas é o hábito dos locais - e suponho que dos expatriados - durante o Verão, dormir nos terraços (algo semelhante às açoteias algarvias) com o mínimo de roupa que os costumes permitem e de hora em hora ir encharcar o lençol em água e tentar voltar a dormir. Viva a tecnologia do freon.
A partir de Setembro e, com sorte, no final de Agosto a humidade começa a baixar. Durante o Verão estamos normalmente nos 70-80%. As temperaturas por vezes até ficam mais altas, passam dos 30-35ºC para dias em que chegam perto dos 40ºC mas sem o bafo quente e húmido de abrir o forno ou, numa analogia que acho mais apropriada, ficar a apanhar o bafo de uma turbina de avião. Assim, mesmo nos dias quentes, à sombra e com uma brisa fica suportável e perto da água passam-se serões bem agradáveis. E as noites são amenas. Devo dizer que é um alívio. Respira-se bem. Pode-se começar a desligar o ar condicionado durante a noite - as casas são mal isoladas de modo que a climatização é essencial. Para um português sabe a Verão. E sabe bem.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Escorpiões e o catano

Foto tirada por um amigo perto da sua casa aqui em Mascate
Nos filmes do Indiana Jones e muitos dos sucedâneos, quando passam pelo deserto há sempre um ou muitos escorpiões para além de outra bicharada exótica para meter nojo e quase matar alguém.
Não vou desmentir, eles existem e não apenas em zonas longínquas do país. Temos vários vizinhos em plena urbe que os descobrem em caixas ou qualquer sítio onde caibam. Ainda ontem vimos um durante um barbecue na casa de amigos. Felizmente costumam ser dos amarelos cuja picada dói mas em princípio não mata.  Se for um adulto. Se for saudável. Se não for alérgico.
Entre outra bicheza simpática que se pode encontrar por este país fora estão aranhas - parece que só uma espécie introduzida é muito venenosa, as outras são só um pouco venenosas; aranhas escorpião - um tipo de artrópodes não venenoso, mas que pica e come pequenos animais (incluindo escorpiões!); cobras - algumas pequenas víboras e outras bem maiores, algumas venenosas. Já vi de todas embora os encontros tenham sido de terceiro grau. Outra bicheza que noutras paragens não traz problemas são os gatos, mas que aqui, visto que quase não há cães, tomam conta dos espaços urbanos, em particular os caixotes dos lixo. E tornam-se muito territoriais, com lutas de rua que acordam a vizinhança a meio da noite
Muitos destes bichos gostam de ficar na sua e não chatear. Infelizmente isso significa entrar para sapatos, caixas e outros objectos humanos. Recentemente uma colega pediu umas caixas do arquivo da empresa que foram entregues no seu gabinete. Eis que, ao abrir uma delas saltou de lá o que ela descreveu como um escorpião! Fugiu dali e o gabinete foi fechado e selado até chegar a equipa de controle de pragas. O burburinho foi grande na empresa e todos tentavam ver o bicho pelo vidro do gabinete. Passado algum tempo venceu a timidez e começou a passear pelo chão. Mas andava lateralmente e não tinha "cauda"... Era de facto um artrópode mas não mais do que um caranguejo. A desilusão foi grande, toda a gente queria ver um escorpião. Este nem consegue picar...