quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

O clima de Omã

Faz hoje um ano que cheguei a Omã. Tempo de balanço e alguma introspeção. E tempo também para perceber como é o tempo, e a mais larga escala o clima de Omã.
Lembro-me quando cheguei que estava bem mais quente do que em Portugal, uns 20 e poucos graus durante o dia, mas ao fim da tarde e noite era bom usar algo mais do que uma t-shirt. O vento ajuda à sensação de frio ao qual se junta a ocasional chuva. Este ano não é diferente e de facto nas últimas semanas fica fresco à noite, é preciso usar uma camisola e/ou casaco. Na cama um cobertor sabe bem. Assim deve ficar até ao fim do mês de Janeiro. O Inverno Omanita é assim o equivalente à nossa Primavera, com dias a roçar um Outono seco.
A partir de Fevereiro as temperaturas começam a subir, desaparece o fresco da noite e no pico do calor já passa dos 30ºC. Ainda assim agradável. Março começa a ter dias de maior calor, as noites já são tépidas. Chegando a Abril, embora também haja algumas tempestades a fazer o ditado português valer em Omã, começa o calor a sério, com temperaturas acima dos 40ºC. Mas ainda é seco, refrescando um bocado à noite. A Primavera Omanita é um Verão que começa relativamente fresco mas que acaba em tórridos dias de Agosto.
Em Maio começa o martírio. As temperaturas até podem baixar dos 40ºC mas chega a humidade, implacável, omnipresente e que perdura meses a fio. Em poucas semanas e com poucos recuos a humidade chega aos 80% ou mais, dia e noite. Até Agosto há poucas mudanças, exceptuando as muito raras frentes frias que fazem baixar as temperaturas e humidade. É chato, não se pode fazer nada na rua, nem à noite. A praia é por vezes um escape, mas frequentemente as correntes quentes do Índico fazem com que a sudação continue dentro de água. Como uma sopa. Em Setembro começa a haver uns dias ligeiramente mais frescos e menos húmidos que permitem que se esteja relativamente confortável à sombra. E com serões já suportáveis. Alguns "braços" da monção que afecta o Sul do país por vezes chegam a Mascate e são uma bênção. Ainda assim demasiado quente. O Verão de Omã é assim uma estação incomparável, um inferno tórrido imutável.
A partir de Outubro começam finalmente a descer as temperaturas, embora de forma irregular, assim como a humidade. No entanto é só em Novembro que começam a vir dias consistentemente abaixo dos 30ºC e secos. Aí sim uma Primavera quente bem agradável que se estende até Dezembro.
 

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

O deserto

A rara nuvem e algumas ervas ao longe
A imaginação colectiva vê os desertos como sítios com areia, dunas gigantes e uns quantos esqueletos de animais desafortunados. Esses sítios existem, mas são apenas 1/5 das áreas desérticas do Mundo. Na verdade estou a viver no deserto há um ano, visto que Omã, exceptuando as montanhas e a região de Dhofar, mais a Sul, é tecnicamente um deserto.
Estive uma semana a fazer trabalho de campo (uma das várias vantagens da empresa) na zona de Huqf-Haushi, na parte Leste do País. É desolada, com pouca vegetação, remota e silenciosa. Algumas zonas mais baixas - o que é difícil de perceber visto que toda a zona é muito plana - recebem água quando as chuvas nas montanhas a mais de 300km de distância são fortes e extravasam os leitos dos wadis. Formam-se lagos que podem durar semanas ou até meses até evaporar e escoar toda a água. Esses baixios têm alguma vegetação, mas sempre escassa e igualmente efémera. O restante desta área é rocha exposta, sem solo. Para geólogos seria ideal se não fosse a areia que cobre muitas zonas, embora sem formar dunas consolidadas. Embora austera nesta zona vivem camelos, lebres e corvos (que consegui ver) para além de gazelas, oryxes, raposas e muita passarada.
Aquele ali pestanudo é o meu!
Os primeiros, apesar de parecerem selvagens têm donos. São de tribos beduínas, agora em grande parte sedentarizadas, embora alguns vivam ainda no deserto sem morada certa acompanhando as manadas. Não vi camelos marcados, pelos vistos são reconhecidos pelos donos pela cor do pelo, olhos e outros pormenores que passam desapercebidos pelos demais.
Nesta altura do ano as temperaturas são amenas, mesmo quando passam dos 30ºC há um vento constante e cortante (infelizmente acompanhado de muita areia) que refresca. À noite fica frio, muito, abaixo dos 10ºC e igualmente ventoso. Se não fosse a luz dos campos petrolíferos o céu nocturno seria perfeito. Ainda assim sente-se a paz e a calma que moldou este povo.
A planura austera e o objectivo da saída ao fundo.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Frio, essa rara sensação

Sim, posso dizer finalmente que, desde Janeiro passado, senti frio. Exceptuando as salas em que o ar condicionado está bom para recordar o Norte da Europa no Outono, a manga curta foi constante e sempre que possível a chinela no pé.
Ao chegar ao trabalho, no final de Novembro.
Vale no entanto a pena dizer que foi ao fim da tarde, já a anoitecer - isso por cá é às 18h - na praia, depois de sair do banho. De resto durante o dia estão uns amenos vinte e poucos graus, chegando aos 30ºC no pico do sol. Ainda assim sempre com uma brisa. Bem agradável.
Ainda estou a recuperar do hábito, do qual só me apercebi quando começou a ficar fresco, de me retrair sempre que abro uma porta para o exterior. Todos os edifícios são climatizados e metade do ano está um calor infernal, de modo que o bafo quente e húmido que nos acolhe sempre que se abre uma porta molda o comportamento. Lentamente vou substituindo a retração por um sorriso de alivio e prazer sempre que a porta se abre. Parece psicótico, mas sente-se mesmo como um peso que saiu de cima.
Olhó cobertor barato pó frio! É lindo e barato! Vá lá vere!
Naturalmente agora que as temperaturas descem à noite para uns glaciares 16°C os locais acham que está um frio horrível, passam mal à noite porque não se conseguem agasalhar o suficiente. Se calhar há mesmo quem compre as coleções de roupa de inverno iguais às europeias que vendem agora nas lojas como a H&M e Zara. Gorros, luvas, casacos com lã polar, camisolas de caxemira... Viva o Inverno omanita!

domingo, 12 de janeiro de 2014

Hallowen e a reciclagem

O leite faz bem aos ossos
Sendo o contingente ocidental de maior relevo de origem anglofona e neerlandesa, o Halloween é obviamente comemorado no seio dos expatriados. Infelizmente o Carnaval não é, embora ache que o contingente latino provavelmente teria peso suficiente para isso.
Com alguns meses de antecedência resolvi começar a fazer os adereços para o evento. Aproveitando materiais em abundância - pacotes de leite de plástico - e a fonte inesgotável de informação e de ideias que é a internet, eis que surge um esqueleto e outros semelhantes para a noite das bruxas. A alternativa para estes e outros materiais é a reciclagem, por aqui organizada pela Sociedade Ambientalista de Omã, a única ONG autorizada a trabalhar nessa área - é um estado estranho e corporativista. Quem trabalha na empresa tem a vida facilitada porque há contentores onde se podem por todos os materiais recicláveis. Para quem não tem acesso às mesmas instalações, sobram alguns pontos na cidade onde se faz recolha. Um pouco como em Portugal nos anos 90 em que reciclar requeria a dedicação de acumular o cartão e papel para ir entregar aos pontos de recolha. Infelizmente não há nenhuma central de reciclagem em Omã, pelo que todos os resíduos são exportados. E há rumores que essas centrais (aparentemente nos Emirados) não têm capacidade de receber mais nada. O que acontece à reciclagem de Omã não se sabe mas há o receio que esteja a ser misturada com o lixo normal e enviada para os aterros... O metal segue por meios igualmente obscuros, mas pelo menos com o fim de ser reciclado, ao que parece para a Índia.
No entretanto sobram os outros Rs do lema ambientalista. A redução é difícil visto que tudo aqui é vendido em embalagens e raramente a granel. A reutilização por agora passa por enfeites de Natal, caixas de sandes, estojos para os lápis e canetas entre outros.
Mais sobre reutilização aqui e aqui. E googlar claro.

Parabéns Sua Majestade

O aspeto mais doce do aniversário
A 17 de novembro Sua Majestade o Sultão Qaboos bin Said Al Said bin Taimur faz anos. Sendo o Sultão e sendo Omã um sultanado adivinha-se festa majestática. De facto desde há um mês que praticamente todas as ruas, autoestradas e tudo quanto é empresa, repartição, loja ou similar está enfeitada com as cores de Omã, a bandeira e ainda mais imagens do monarca. Claro que isso significou um feriado de 2 dias, o que foi considerado pouco pelos locais, já houve anos em que foi um semana inteira. Nas últimas semanas começou a ver-se também carros pintados com as cores do sultanado e imagens do Sultão. Esses e muitos outros juntam-se em algumas zonas de Mascate, especialmente junto a praias para comemorar, todas as noites.
O centro comercial cá do sítio com uma celebração discreta
De início eram apenas as cores do país e buzinadelas, mas recentemente passaram a ser também corridas de automóvel em via pública, disparar armas semi-automáticas para o ar, pôr 15 amigos dentro do carro incluindo alguns a sair pelas janelas e conduzir à maluca, seguido de piões e outras proezas com a consequência de ferir mortalmente alguns desses amigos. Todos os anos morre gente mas a festa continua. E não há álcool. Conhecendo o tipo de celebrações se calhar é mesmo melhor continuar a não haver.

sábado, 4 de janeiro de 2014

A herança portuguesa em Omã IV

Já tinha indagado sobre vocábulos de origem portuguesa que tivessem ficado no árabe que se fala em Omã ou pelo menos em Mascate. Procura infrutífera até agora. Sempre que encontrava uma palavra em comum era influência árabe no português e certamente via Magrebe. Apenas o edifício Graiza em Mascate antiga que se refere à antiga igreja e convento portugueses que existiam no local. Além disso apenas o Ryal, a moeda do Sultanado, originalmente o Real português, em tempos moeda de troca por esse Índico fora.
Uma vista das varandas do bait al baranda
Em Mutrah, antiga Matara para os portugueses, tinha reparado num museu chamado bait al baranda. Veio logo a piada fácil que devia ser por ter varandas. Depois de o visitar e googlar a palavra descobri que não é piada. Parece que varanda ou a variante veranda existe no português e no espanhol desde pelo menos o século XV e não existe similar em árabe. Só em persa existe baramada e não se refere ao mesmo conceito. O edifício não é português, foi construído mais de um século depois da expulsão dos portugueses destas paragens. Originalmente não o tinha, mas ficou, depois de ficar na alçada do ministério do turismo, com o nome usado popularmente em Matara devido às suas varandas. Fica a sugestão de que Omã foi colonizado por pessoal do Norte carago! Sobre o museu tem uma exposição sobre a história de Omã, desde os dinossauros até aos dias de hoje, com muitos saltos. Há uma sala com dois esqueletos de dinossauro muito apertados, outra com a colisão dos continentes (e a formação do ofiólito de Omã) passando depois para a pré história e história mais recente. Um pouco de espaço ainda para os trajes e instrumentos musicais tradicionais do país. Apesar da exposição desgarrada vale a pena a visita.
Sobre a palavra, um site interessante aqui