Um dos flancos do wadi em Yitii |
Pensava que o termo wadi era uma das variações da palavra
wued, ambas referentes a ribeiro ou rio. A última é um termo usado no Norte de África
e que em Espanha e Portugal deu origem a Guadiana, Guadalquivir e outros rios e
ribeiros. A comentar a origem destas e outras palavras no Português e Espanhol
com omanitas, foi-me explicado que as duas não são sinónimos nem variações,
simplesmente uma refere-se a rio perene (wued) e outro a rio intermitente
(wadi). É interessante observar como a geografia influencia a língua. Pelo que
sei não temos (nem os espanhóis) palavras específicas para estes conceitos. E o
facto de na Península Ibérica ter ficado só com o termo wued. É seco mas nada
comparado com maior parte dos países árabes.
Pequeno wadi em Yitii |
Ao explorar um pouco de Omã, percebe-se a relevância
de ter os dois termos. Quase todos os vales, mesmo os que têm origem nas
montanhas onde chove mais são intermitentes. E destes a esmagadora maioria não
tem água a correr no inverno: são quase sempre secos com inundações catastróficas
quando passa por cá a monção ou outra tempestade mais forte. Para conter as
torrentes e aproveitar alguma dessa água várias “barragens” estão ou já foram
construídas no sopé das montanhas para que a água infiltre quando há cheia. Uso
as aspas porque estas barragens são basicamente muros de pedra com poucas
dezenas de metros de altura e vários kilometros de comprido, a cortar vales
gigantes sem uma gota de água. À superfície.
Mesmo nas zonas aparentemente mais secas é
interessante observar que há vegetação. Pouca mas constante e muitos dos vales
estão cultivados, alguns com plantações de sequeiro como as tamareiras (que dão
tâmaras bem boas, mesmo para quem não costuma gostar como eu) mas também outras
árvores de fruto e vegetais que certamente precisam de mais água. Esta tem
origem nos muitos poços que existem nos vales que indica que a água subterrânea
abunda ou pelo menos existe em quantidade suficiente.
Uma das "barragens" na zona de Sohar |
Outra fonte de água, ainda
hoje usada, são as falajs, um feito da engenharia antiga. As mais simples são
como as levadas da Madeira que transportam água ao longo de canais a partir de
uma fonte. As mais complexas nos sopés das montanhas envolvem poços verticais de
algumas dezenas de metros até ao nível freático e galerias horizontais ou
levemente inclinadas ao longo de kilometros (!) até à zona de costa ou vales
mais longe das montanhas. Ao longo do percurso há poços onde a água é extraida
para uso doméstico e agricola. Existem há mais de 1500 anos e a sua origem é
debatida. Já vi escrito que tiveram origem na Pérsia, onde também são usadas,
mas os omanitas reclamam-nas como suas. Vejam mais aqui.
Quando
vir uma a funcionar reporto.