Vista do vale perto de Hajir |
Escrevo com um lapso temporal de vários meses. As temperaturas neste momento, apesar de estar a ser um Agosto ameno, não permitiriam estas andanças. Em mais uma saída geológica em trabalho (sim, Omã de facto é o paraíso dos geólogos) partimos para as montanhas.
As montanhas de Omã, para Oeste de Mascate formaram-se, de uma forma simplificada, pelo choque de crosta oceânica com a placa da Arábia. Geralmente a placa oceânica mergulha sob a continental num processo chamado de subducção, mas não raramente parte dessa crosta oceânica é também obductada, ou seja transportada para cima da crosta continental. Essa porção de "oceano em terra" chama-se ofiólito e o de Omã é dos mais conhecidos e mais bem estudados do Mundo. A acompanhar essa crosta oceânica, para além de outros processos mais complexos, há rochas sedimentares bem mais interessantes que o ofiólito (desculpem colegas petrólogos, é verdade). Para as empresas de petróleos isso é um mimo visto que podem ver à superfície - e em Omã muitas vezes significa 100% de afloramento - rochas equivalentes às que observam, de forma muito mais limitada, na subsuperfície.
Os terraços de cultivo na aldeia de Wazma em Sahtan. |
Nesta saída fomos analisar rochas bem antigas, contemporâneas do aparecimento da vida multicelular, numa "janela geológica". Todas as rochas mais recentes que estavam em cima foram erodidas, deixando exposto o núcleo de uma dobra anticlinal gigantesca. Escusado será dizer que o anfiteatro quilométrico criado por esta estrutura é brutal. No seu centro corre o wadi Sahtan e a zona é chamada de Sahtan bowl, a taça de Sahtan. A bordejar este anfiteatro erguem-se escarpas verticais de centenas de metros. No topo alguns dos picos mais altos de Omã, como a Jebel Shams.
A encontrar bons afloramentos e a analisar de pertos outros já conhecidos calcorreamos muitos dos caminhos de terra batida nesta zona e, chegando a zona mais inclinadas, percorrendo a pé, num misto de caminhada, escala e trabalho geológico. Quanto mais subíamos mais tentava não me lembrar que a descer custa sempre mais. Mas a geologia e a paisagem valiam a pena. E o fresco começa a sentir-se lá em cima. A acompanhar a nossa escalada, para além das aves, as omnipresentes cabras, osgas e burros selvagens que parecem ter as mesmas habilidades que as cabras.
Vários dias pesados no físico mas revigorantes no espírito.
A vista em altitude do lado Sul do magnifico anfiteatro de Sahtan |
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