sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Por entre um Mundo antigo. E alto

Vista do vale perto de Hajir
Escrevo com um lapso temporal de vários meses. As temperaturas neste momento, apesar de estar a ser um Agosto ameno, não permitiriam estas andanças. Em mais uma saída geológica em trabalho (sim, Omã de facto é o paraíso dos geólogos) partimos para as montanhas.
As montanhas de Omã, para Oeste de Mascate formaram-se, de uma forma simplificada, pelo choque de crosta oceânica com a placa da Arábia. Geralmente a placa oceânica mergulha sob a continental num processo chamado de subducção, mas não raramente parte dessa crosta oceânica é também obductada, ou seja transportada para cima da crosta continental. Essa porção de "oceano em terra" chama-se ofiólito e o de Omã é dos mais conhecidos e mais bem estudados do Mundo. A acompanhar essa crosta oceânica, para além de outros processos mais complexos, há rochas sedimentares bem mais interessantes que o ofiólito (desculpem colegas petrólogos, é verdade). Para as empresas de petróleos isso é um mimo visto que podem ver à superfície - e em Omã muitas vezes significa 100% de afloramento - rochas equivalentes às que observam, de forma muito mais limitada, na subsuperfície.
Os terraços de cultivo na aldeia de Wazma em Sahtan.
Nesta saída fomos analisar rochas bem antigas, contemporâneas do aparecimento da vida multicelular, numa "janela geológica". Todas as rochas mais recentes que estavam em cima foram erodidas, deixando exposto o núcleo de uma dobra anticlinal gigantesca. Escusado será dizer que o anfiteatro quilométrico criado por esta estrutura é brutal. No seu centro corre o wadi Sahtan e a zona é chamada de Sahtan bowl, a taça de Sahtan. A bordejar este anfiteatro erguem-se escarpas verticais de centenas de metros. No topo alguns dos picos mais altos de Omã, como a Jebel Shams.
A encontrar bons afloramentos e a analisar de pertos outros já conhecidos calcorreamos muitos dos caminhos de terra batida nesta zona e, chegando a zona mais inclinadas, percorrendo a pé, num misto de caminhada, escala e trabalho geológico. Quanto mais subíamos mais tentava não me lembrar que a descer custa sempre mais. Mas a geologia e a paisagem valiam a pena. E o fresco começa a sentir-se lá em cima. A acompanhar a nossa escalada, para além das aves, as omnipresentes cabras, osgas e burros selvagens que parecem ter as mesmas habilidades que as cabras.
Vários dias pesados no físico mas revigorantes no espírito.
A vista em altitude do lado Sul do magnifico anfiteatro de Sahtan
 

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