Forte de Al-Jalali, visto do de Al-Mirani |
Vista sobre o forte de Al-Mirani com
capela portuguesa
à esquerda (de Historical Muscat)
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Já tinha visto no guia que a
maioria dos fortes são militares e o acesso normalmente não é permitido. Ainda
pensei que poderia lá chegar com ar de proto-colonialista (deve existir certo?
Há neo, há proto. Ou será paleo?) e dizer “Assalam alaykum, sou Português, os
meus antepassados construíram este maravilhoso forte no cimo deste rochedo, de
modo que gostaria de o visitar e ver o que vocês fizeram com ele nos últimos
séculos, ok?”. Não sei se teria tempo de fugir entre o armar da AK e o disparo
portanto tive mesmo de os ver por fora. Toda a zona de Mascate é montanhosa,
excepto nos vales amplos onde estão maior parte das construções. Alias Mascate
velha é só uma parte da cidade, o porto (Mutrah – Matara em Português) está
noutra zona, Ruwi está ao longo de um vale que se estende para o interior e ao
longo de uns 40km paralelamente à costa, a cidade tem esta configuração. Entre
os vários vales, há promontórios - alguns deles entrando pelo mar, formando
baías - onde invariavelmente está um forte ou pelo menos um torreão. Alguns são
reconhecidamente portugueses ou, mesmo se houvesse uma construção anterior,
foram totalmente reconstruídos e portanto considerados como portugueses. Muitos
deles foram recentemente revestidos a cimento e perderam um pouco do seu “ar
rústico” e diria eu, do seu valor arquitetónico e patrimonial. O único que
restava – Al Mirani, antigo forte do Capitão – está neste momento a ser
rebocado.
Pórticos no interior do forte
Al-Jalali
(de Historical Muscat)
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Não percebo suficiente de história da arte para perceber o que os
distingue como portugueses. Noto que os arcos das janelas não são como os
restantes que se vêem em edifícios desta zona. Sei que as ameias originalmente
não existiam ou eram rectangulares, mais ao estilo que estamos habituados a ver
nos castelos portugueses (embora algumas dessas também sejam recentes). Brasões
ou outras marcas portuguesas mais evidentes só no interior. Os canhões foram
transformados em pinos de passeio e não parecem ter nenhum cunho. Se tivesse
conseguido entrar com o paleio proto-colonialista poderia ter perguntado se as
latrinas são ao estilo turco ou se tinham mantido o estilo ocidental, mas se
calhar nos secúlos XV e XVI não havia esse tipo de cuidados…
Vista aérea para Norte da antiga
Mascate em 1905, ainda com muralha
portuguesa e a ruina da Gharayzah
ao centro (de Historical Muscat).
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Os fortes de Al-Mirani e de
Al-Jalali (antigo forte de São João) em Mascate velha estão estrategicamente
posicionados no antigo porto abrigado. O acesso só se consegue pelo lado do
mar, por terra só para quem faça escalada profissionalmente. Entre os dois fica
o complexo do Palácio do Sultão, também com acesso restrito. No forte de
Al-Jalali parece que resta uma capela portuguesa e no de Al-Mirani algumas
inscrições e pórticos claramente de origem portuguesa. Não os vi mas arranjei
umas imagens (obrigado Pedro!).
Forte de Matara visto de Mutrah |
A muralha que envolvia toda a Mascate antiga
foi destruída nos anos 80 para a modernização da cidade. É pena, mas se
pensarmos também não resta muito da muralha fernandina em Lisboa. Também destruída,
embora logo nos anos 20, foi a igreja portuguesa que provavelmente incluía um mosteiro,
quando toda a zona de Mascate antiga começou a ser modernizada. Restou, no
entanto, o topónimo local Bayt Gharayzah ou gareza ou greiza. Não é difícil
perceber de onde vem o nome.
Porta de entrada
no forte de Matara
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Vista interior do Forte de Matara |
O forte de Matara, sobre a colina
que limita a atual Mutrah ou Matrah é o único visitável. O acesso é difícil, no
meio do bairro que o circunda e por umas escadas bem íngremes. Se por acaso a
porta estiver aberta ótimo, se não, volte mais tarde. À segunda consegui. A
vista é soberba. Infelizmente está muito mal conservado e os antigos canhões
confundem-se com lixo bem recente. Parece que os arranjos foram só por fora.
Pelo que li, originalmente eram apenas dois torreões que foram posteriormente
ligados por uma muralha. Porventura o know-how português de recuperação de
castelos aliado ao dinheiro omanita poderia ser uma boa solução. Certamente
merecida.
Vista sobre a atual Mutrah, do forte de Matara |
Para saber mais, Wikipedia e um belo livro sobre Omã e Mascate: Historical Muscat de J.E. Peterson.
Os pórticos arredondados que mostras acima (Forte de São João) são umas das características da arquitectura portuguesa. De resto, torna-se realmente complicado, até porque, a nossa arquitectura poderia roçar o estilo manuelino ou barroco, e o único que consigo distinguir bem, é apenas o árabe mesmo, que aqui encontra-se ao pontapé em Espanha.
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