Mais um passeio, desta feita a
Norte de Mascate, ao longo da extensa planície costeira de Batinah. A zona
extende-se de um pouco a Norte de Mascate até à fronteira com os EAU. As
montanhas ficam a uns quantos kilometros da costa e toda a área entre estas e o
mar é muitissímo plana, composta pelos depósitos aluviais das montanhas (são os
clássicos debris flows, aqui com dezenas de metros de espessura). Quase toda a
chuva que cai nas montanhas é escoada à superfície e principalmente
subterrâneamente, em direção à costa, através destes depósitos, fazendo deles
um excelente aquífero. Não estranhamente esta é das zonas da península arábica
mais férteis e densamente povoadas – para padrões de península arábica – e de
facto muitos dos produtos omanitas que se vêem nos supermercados são produzidos
nesta zona.
A capital desta zona é Sohar,
referida nos textos portugueses como Soar. Foi, pelo menos desde o tempo dos antigos
gregos um importante interposto comercial para as rotas vindas do extremo
oriente e o ponto de exportação do cobre que ainda hoje é produzido nas
montanhas circundantes. E claro está, estratégica como era, foi conquistada
pelos portugueses e há ainda um forte por nós construído ou reconstruído.
Encontrei uma referência a esta cidade num texto João de Barros na Primeira
Década da Ásia, dos feitos que os portugueses fizeram no descobrimento dos
mares e terras do Oriente, Livro IX, Cap. I de 1522 (vejam o interessante
blog sobre as cidades Portuguesas referidas nos Lusíadas aqui):
(…) té o cabo Rofalgate, que
está em vinte e dous graos e meio, e será de costa cento e vinte leguas, toda
he terra esteril, e deserta. Neste cabo começa o Reyno de Ormuz,
e delle té o outro cabo Monçadan haverá oitenta e sete leguas de costa, em que
jazem estes lugares do mesmo Reyno, Calayate, Curiante, Mascate, Soar, Calaja,
Orsaçam, Dobá, e Lima, que fica oito leguas antes de chegar ao cabo Monçadan,
que Ptolomeu chama Asaboro, situado per elle em vinte e tres graos e meio, e
per nós em em vinte e seis, no qual acaba a primeira nossa divisão. E a toda a
terra que se comprehende entre estes dous termos, os Arabios lhe chamam Hyaman,
e nós Arabia Feliz,
a mais fértil, e povoada parte de toda Arabia.
Só reconheço alguns dos topónimos referidos e a
Hyaman referida parece corresponder à costa de Batinah como é hoje chamada e a
zona costeira montanhosa a SE de Mascate. Monçandan é a península que forma o
estreito de Ormuz (nome que corresponde na verdade à ilha do lado Iraniano). O
cabo de Rofalgate fica a SE de Mascate, sendo o ponto mais oriental da
península.
Omã ou uma velha adega no Alentejo? |
Ao contrário de Mascate, em Soar não há rochedo
onde construir o forte de modo que este está sobre uma pequena elevação junto
ao mar e tem pouco mais do que uma muralha e algumas construções no interior.
Uma parte do terreiro tem a descoberto escavações arqueológicas que mostram
construções referidas na pancarta como sendo anteriores aos portugueses e
eventualmente até pré-islâmicas. No meio do terreiro um canhão muito degradado
possivelmente português, mas não consegui ver. Claramente posterior é a torre
quadrada no centro do forte que vai albergar um museu sobre a história do forte
e desta zona. Deve valer a pena cá voltar quando abrir!
Mais uma vez gostava de conhecer mais sobre
história da arte, em particular da arquitectura. Edifícios circulares com 1 ou
2 andares e uma entrada. Já os vi no Alentejo. Até com as ameias. Os arcos e a
disposição das janelas e portas parece familiar, com cunho português, mas
algumas dessas coisas associo à influência árabe em Portugal de modo que se
torna difícil perceber qual a sua origem. West meets East na sua forma mais
interinfluenciada.
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