quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

A herança Portuguesa em Omã III



Mais um passeio, desta feita a Norte de Mascate, ao longo da extensa planície costeira de Batinah. A zona extende-se de um pouco a Norte de Mascate até à fronteira com os EAU. As montanhas ficam a uns quantos kilometros da costa e toda a área entre estas e o mar é muitissímo plana, composta pelos depósitos aluviais das montanhas (são os clássicos debris flows, aqui com dezenas de metros de espessura). Quase toda a chuva que cai nas montanhas é escoada à superfície e principalmente subterrâneamente, em direção à costa, através destes depósitos, fazendo deles um excelente aquífero. Não estranhamente esta é das zonas da península arábica mais férteis e densamente povoadas – para padrões de península arábica – e de facto muitos dos produtos omanitas que se vêem nos supermercados são produzidos nesta zona.
A capital desta zona é Sohar, referida nos textos portugueses como Soar. Foi, pelo menos desde o tempo dos antigos gregos um importante interposto comercial para as rotas vindas do extremo oriente e o ponto de exportação do cobre que ainda hoje é produzido nas montanhas circundantes. E claro está, estratégica como era, foi conquistada pelos portugueses e há ainda um forte por nós construído ou reconstruído.
Encontrei uma referência a esta cidade num texto João de Barros na Primeira Década da Ásia, dos feitos que os portugueses fizeram no descobrimento dos mares e terras do Oriente, Livro IX, Cap. I de 1522 (vejam o interessante blog sobre as cidades Portuguesas referidas nos Lusíadas aqui):
(…) té o cabo Rofalgate, que está em vinte e dous graos e meio, e será de costa cento e vinte leguas, toda he terra esteril, e deserta. Neste cabo começa o Reyno de Ormuz, e delle té o outro cabo Monçadan haverá oitenta e sete leguas de costa, em que jazem estes lugares do mesmo Reyno, Calayate, Curiante, Mascate, Soar, Calaja, Orsaçam, Dobá, e Lima, que fica oito leguas antes de chegar ao cabo Monçadan, que Ptolomeu chama Asaboro, situado per elle em vinte e tres graos e meio, e per nós em em vinte e seis, no qual acaba a primeira nossa divisão. E a toda a terra que se comprehende entre estes dous termos, os Arabios lhe chamam Hyaman, e nós Arabia Feliz, a mais fértil, e povoada parte de toda Arabia.
Só reconheço alguns dos topónimos referidos e a Hyaman referida parece corresponder à costa de Batinah como é hoje chamada e a zona costeira montanhosa a SE de Mascate. Monçandan é a península que forma o estreito de Ormuz (nome que corresponde na verdade à ilha do lado Iraniano). O cabo de Rofalgate fica a SE de Mascate, sendo o ponto mais oriental da península.
Omã ou uma velha adega no Alentejo?
Ao contrário de Mascate, em Soar não há rochedo onde construir o forte de modo que este está sobre uma pequena elevação junto ao mar e tem pouco mais do que uma muralha e algumas construções no interior. Uma parte do terreiro tem a descoberto escavações arqueológicas que mostram construções referidas na pancarta como sendo anteriores aos portugueses e eventualmente até pré-islâmicas. No meio do terreiro um canhão muito degradado possivelmente português, mas não consegui ver. Claramente posterior é a torre quadrada no centro do forte que vai albergar um museu sobre a história do forte e desta zona. Deve valer a pena cá voltar quando abrir!
Mais uma vez gostava de conhecer mais sobre história da arte, em particular da arquitectura. Edifícios circulares com 1 ou 2 andares e uma entrada. Já os vi no Alentejo. Até com as ameias. Os arcos e a disposição das janelas e portas parece familiar, com cunho português, mas algumas dessas coisas associo à influência árabe em Portugal de modo que se torna difícil perceber qual a sua origem. West meets East na sua forma mais interinfluenciada.

Sem comentários:

Enviar um comentário